Eu sofro tanto mas disfarço tão bem que ninguém desconfia
É uma pena tal talento eficaz só na arte do choro e na habilidade da angústia
Durante as cenas as máscaras vão sendo trocadas com tristeza para que não apareça a face marcada
Do mesmo modo, exaustivamente, falas são ditas com bastante cuidado pra não revelar o fracasso existente
Passo e paro a cada iluminação o bom comportamento torna-se um peso e o sofrimento mais tenso e intenso
No amor eu sempre me estrepo olhar que não atinge, passa reto afeto que não é devolvido, é recebido beijo que não é entregue em pessoa, fica á toa
Ao mesmo tempo fico convicto e pouco de que um dia vem sempre após o outro nessa lua, nessa terra meu amor de verdade
Se perpetua a sua espera dessa beira, dessa vista minha alma se dissipa e se desfaz a sua figura
Quem sabe um dia o meu amor me entenda e perceba que não sou enigma nem lenda e quando os dias ficarem pra lá de antigos que venha a tradução desse idioma infinito
Assim desfaçam-se todos os mal entendidos e acabe essa tentativa meiga e preguiçosa de quem parece sempre ouvir em grego o que eu digo e ler em hebraico os poemas que eu escrevo
E quanto aos sonhos ignorados pela vida que os olhos, os ouvidos, a lÃngua sintam que meu sangue não é tinta e meu coração jamais foi pedra
Nem tão primeiro Nem tão último
Que tal o meio tempo a gente somando junto meio a meio, igual a um inteiro Você: o lado esquerdo Eu: o lado direito
O desejo pede pela manhã para que a paixão surja como surgiu no dia de ontem e anteontem e transanteotem
Implora enfezado e silencioso para que os tempos voltem cegamente desejosos pela chance de nos tocarmos novamente
E insiste pelo beijo de outrora pela quimera perdida na aurora Ah! Desejo bobo, se esquece do presente mas tantas vezes a estória foi repetida Porque não repeti-la para nós também?
Mas o caminho do futuro vão todos e topar o amanhã é só o que resta no vão das unhas das mãos meu pensamento vai sendo ruÃdo aos poucos somem as pontas mas ficam os sentidos
E porque tantas perguntas sem respostas? Quem é mais sensÃvel quem toca ou quem é tocado? O que é mais preciso, carinho a flor da pele ou broca rente a pedra? O que é mais esperado? Sorriso, beijo na boca ou o caminho que nos leve a perda?
Autor da mensagem: Fábio Alves
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