Onofre, acabei de pegar teu exame. O médico disse que você vai morrer em uma semana.
Hein? O que?
Você morre terçafeira que vem, dia 25, Dia do Soldado.
Mas... que coisa horrível!
Horrível, por quê? Melhor que morrer, sei lá, no Dia do Índio, no Dia da Secretária, no Dia do Ginecologista...
Meu Deus! Vou morrer em uma semana e você me conta assim, na bucha, sem me preparar?
Deixa de ser infantil, Onofre. Você não é prato de bacalhau para eu te preparar.
Uma semana... Eu estou chocado! Se bem que...
O quê?
Quer saber? De certa forma foi bom saber logo. Assim, aproveito o tempo que resta. Vou viajar, beber e comer tudo que eu tenho direito.
Aí é que está, Onofre. Você vai ter que fazer dieta.
Dieta?
Para emagrecer. O caixão que a gente tem não é seu número. Com essa barriga, você não entra naquele ataúde de jeito nenhum. Só entra de lado. Você quer ser enterrado de lado, Onofre?
Claro que não! Mas, não dá pra trocar de caixão?
É da loja do teu primo. Fui do médico direto para lá e foi o que ele me deu. Ele só trabalha com modelagem única e a gente não tem dinheiro para comprar outro.
Mas, não é justo! Tenho que fazer regime na última semana da minha vida?
E ginástica e cooper. Talvez até balé. Só regime não vai dar conta dos 15 kg que você precisa perder. Já te matriculei numa academia.
Mas...
Outra coisa: não esquece de começar a convidar as pessoas para o velório.
Eu?
É, ué. Não é você que vai morrer? Era só o que me faltava: você é que vai morrer e eu é que tenho o trabalho.
Mais uma coisa: você vai ter que visitar a tia Augusta.
Ah, não! Visitar a tia Augusta, não! Estou brigado com ela, você sabe disso.
Vai na quintafeira. Já marquei.
Assim não dá! Eu, pensando que ia passar uma semana boa, tranqüila, esperando para morrer... mas nada. Já vi que vai ser um inferno. E se eu não for na casa da tia Augusta?
Ela vai se sentir culpada por não ter feito as pazes antes de você morrer e vai acabar morrendo de desgosto.
E, eu com isso? Não quero saber.
Não quer saber? Acontece que está provado que uma pessoa leva, em média, uns seis meses para morrer de desgosto.
E daí?
Daí que, daqui a seis meses, é o casamento da tua filha. Se a tua tia morrer, a gente vai ter que adiar o casamento. E se a gente adiar é capaz do noivo desistir de casar. Se ele desistir, tua filha vai ficar arrasada e pode sair por aí namorando o primeiro que aparecer na frente. E o primeiro que aparecer na frente pode ser um drogado. E tua filha pode virar uma drogada. E daí para o crime e para a prostituição é um passo. E daí ela pode...
Chega! Vou visitar a tia Augusta!
Ótimo.
Que mais? O quequer que eu faça nessa semana? Já está perdida mesmo...
Mais nada. Só cavar sua cova para economizar no coveiro, que está saindo pela hora da morte.
Mas..
Fala!
E se, por um acaso, eu não morrer?
Tá maluco, Onofre? Depois desse trabalhão todo? Nem pensa nisso! Esquece essa possibilidade!
É que, de repente...
De repente, uma pinóia! Vê lá, hein, Onofre? Não vai me fazer a gracinha de aparecer no teu velório vivo!
Autoria de Elisa Palatnik
Autor da mensagem: Desconhecido
Contribuição: Denise Carreira
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